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Algumas proposições para sistemas de segurança de museus

Quatro trabalhos para uma sala vazia

Labirinto laser / alarme falso: uma sinfonia para um museu

english original

I.

Esse conjunto de quatro trabalhos para uma sala vazia deve ser instalado, de preferência, em um “cubo branco” de não menos do que 8 por 8 metros com uma entrada e uma saída em lados opostos da sala. Teto alto é preferível, cerca de 4 metros de altura (pelo menos). Idealmente as luzes devem ser de neutras à frias (6500 K) e dimerizáveis.

A sala está quase vazia. Apenas alguns elementos perturbam a tranquilidade do espaço. Nessa configuração mínima, uma voz — a princípio baixa e abafada — vem de dentro de um interruptor de luz, na parede. Este pequeno objeto repete, com certa variação, a expressão turn me off [desliga-me].1 Sussurrando a partir da parede e depois chamando por ajuda, gritando e seduzindo. Se alguém tentar ajudar, o interruptor vai rir de você.

O programa que controla as reações foi elaborado para quebrar expectativas. Tentar apertar o interruptor constantemente em um curto período de tempo resultará em uma pausa. Ao final de cada interação, o dispositivo retornará à faixa principal. A princípio é um convite tímido, o mecanismo bipolar então muda de forma agressiva, exigindo sua atenção. E retira-se. Ele geme. Ele preenche o espaço. E volta para dentro da parede.

Ainda em um nível infraestrutural, as luzes do espaço parecem não estar funcionando normalmente. Elas têm uma vida própria. Elas piscam. Elas se comunicam entre si. Há uma mensagem criptografada e uma resposta por sinal. Em código morse. Ou jogam jogos de imitação, repetindo padrões de “liga e desliga” que um ou outro propõe.

Combinando com os demais ambientes do espaço, as luzes devem permanecer as mesmas. A interferência de hardware não deve ser visível. Há momentos em que as luzes estão funcionando como deveriam. Momentos de transições lentas e orquestradas. Flicando. Piscando. Muito sutil.2

No centro da sala, a intervenção mais visível, encontra-se uma câmera de segurança que gira em seu eixo vertical. Pendurada pelo teto com estrutura de aço inoxidável, a câmera transmite a imagem ao vivo da sala para uma TV instalada no ambiente. Como a câmera está girando, a imagem nunca se estabiliza e informa pouco sobre o que está acontecendo. É um vigilante disfuncional.

Com estrutura semelhante, a TV também é pendurada pelo teto por dois tubos de aço inoxidável. A altura da TV deve ser a mesma da câmera, cerca de 160 centímetros acima do chão. Os cabos devem ser passados por dentro dos tubos metálicos.

Na saída, quando alguém estiver tentando sair da sala, o alarme será acionado. Utilizando um sensor a laser — normalmente usados em museus e espaços expositivos para controlar a proximidade do visitante em relação às obras — esta intervenção será instalada na saída da sala. Desta forma, toda vez que alguém cruzar a linha invisível para sair da sala, o som do alarme será ouvido.

II.

Outras duas proposições.

Em outro espaço vazio há um labirinto invisível. Seu percurso é criado pela intersecção de diferentes sensores de laser que captam a transgressão de suas linhas. Os sensores estão posicionados a cerca de 60 centímetros do chão, nas paredes. Por toda sala, receptores serão colocados para criar um design complexo, mas possível, para o labirinto. Suportes cilíndricos de aço inoxidável vão segurar os receptores na mesma altura de 60 centímetros no meio do espaço, alinhados às demais contrapartes dos sensores. Cada vez que alguém cruza uma dessas linhas invisíveis, o som do alarme é ouvido. Com isso, as pessoas podem tentar encontrar um caminho dentro do labirinto que dispare menos alarmes ou podem começar a orquestrar uma coreografia de movimentos e sons no espaço, “jogando” com a infraestrutura de segurança.3

O outro projeto, “alarme falso: uma sinfonia para um museu” consiste na orquestração de diferentes alarmes e aparelhos eletrônicos — que fazem parte da infraestrutura de museus e instituições de arte — como uma composição musical. Nessa situação, o trabalho transcorre como se todos os dispositivos de segurança denunciassem suas posições em meio a uma algazarra de objetos e ruídos eletrônicos. O melhor cenário para isso acontecer são os espaços das galerias dos museus tradicionais, na companhia de Rembrandt, Goya e outros. Idealmente, poderia ser instalado nos racks de luz e câmeras de segurança da Sala 9 da National Gallery, em Londres. [outras opções de salas adequadas no mesmo museu incluem a Sala 30 (Velázquez e as Sufragistas); Sala 45 (com o famoso “Duque de Wellington” de Goya, roubado em 1961); e a Sala 12 (com The Ambassadors) para uma sinfonia menor e mais intimista]. Com todas essas hipóteses, a Sala 9 seria adequada por sua amplitude (com aproximadamente 10 × 30 metros e pé-direito alto) e pelas obras-primas de Leonardo e Michelangelo ao seu redor, entre outros. Pequenos alto-falantes seriam colocados em meio a outras infraestruturas de segurança, não sendo visíveis ou distinguíveis.

A sinfonia começaria como se um alarme disparasse, perturbando a experiência normal do visitante. A partir daí, diferentes “vozes” e camadas se juntariam para criar esse complexo arranjo de sons em um crescendo, criando diferentes movimentos e dinâmicas composicionais. E, assim como começou, subitamente terminaria, e voltaria ao funcionamento normal das coisas.

Tais proposições podem causar problemas de segurança.