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AcE

DeLorean

Tinha nas mãos um copo de rum mate.
Rodando num corredor apertado,
Que desembocava noutra galeria, idêntica à primeira e a todas.
Para ser mais pequeno, éramos levados por uma esteira rolante,
De carro pelas galés e galerias.
Ali ficava a ala de história natural.
Aqui, uma fila de terríveis garçons.
Através do espelho uma espécie de laboratório surgia,
Munido de instrumental e frascos de botica.
Havia dentro uma lagoa de madeira e um paraguai de plumas,
Preso à embarcação asiática por um cadarço trançado nos dedos.
Havia também uma porção de entulho, no corredor ficava
Uma zona de despejo e um cemitério de carros velhos.
Uma máquina quente trabalhava compactando sem parar.
De repente os animais perderiam a forma e suas cores borrariam –
O desperdício era quase nulo.
Suas roupas cenográficas seriam vendidas em máquinas automáticas
Na lojinha de souvenirs.
              O valet deu asas,
Tomamos o ascensor,
Uma Prata com gás no balcão.
Um quarto de hora e o serviço estava feito –
Quentinho do forno, cheirando a novo.
Os funcionários do penoso museu de cera
Borrifam no estofado uma fragrância
Que imita o cheiro de couro.


Cadaveira

Caminhando adormecida, os olhos já não tinha.
Não tinha propriamente as mãos
E com os braços à frente esticados
As falanges soavam feito um chocalho de garras.

Entre a tenção que segue muda
E o que se ergue sem tenção,

Algo confere um sentido enigmático e verdadeiro
À disparatada estampa com ares de noctâmbulo
Que trazia consigo aquele molho de gazuas
Que os chaveiros trazem quando chamados
E me perguntava com os olhos
Por que temia acordá-la.


Avventura

Voltou à terra o pinheiro manso.

Imaginem o que acontece
Quando se diz uma coisa
Querendo outra.

Ele pôde sempre faltar à verdade,
Sem contar em pensamento.
Vestido em estilo tirolês, calções de couro
E chapéu com uma pena de lado.

Depois de lutar e chorar,
Botou sebo nas canelas. Mas
Os pica-paus o alcançaram,
Para seu próprio bem,
E fizeram voltar ao normal
O nariz deformado.

Tarde demais!

A respiração falhava,
Não dava mais um pio.
Fechou os olhos, abriu a boca e estremeceu.
Rente ao chão pendurado, os sapatinhos
Feito um pêndulo badalavam. Rígido e insensível,
Esticou as canelas o bendito filho que não tive.